Ninfomaníaca [1] começa. Penso em Lucien Freud e seus corpos que, de tão nus, perdem o apelo erótico. Joe estálargada num beco, machucada e, mesmo vestida, nua. Para que tanto sexo, tantos corpos gozando de outros corpos? Perplexidade: há cópulas, não se faz amor. Não há fantasia. É o real do corpo estampado na tela que desafia. Cutuca o espectador: não vai gozar, você também?
O que tanto essa mulher procura nesse sexo, nesse excesso? Da virgindade, ela se desfaz sem glamour. Depois, numa aposta, ganhaum pacote de chocolates. Um nada! A ex-esposa de um amante trazos filhos mudos: quer lhes mostrar a cama e sai deixando no ar um grito. A plateia ri. O pai morre, ela seduz um homem qualquer. A plateia cala.
Entre as cenas e o relato, muitos nadasse enfileiram. Pura angústia. Ao final, uma báscula: com ao menos um homem, o nada mudou de lugar. Joe não sente nada no contato com Jerôme que, diferente dos outros, não é um nada para ela. Aísurge o nada de si, como uma surpresa: encontro com o pedaço irredutível de real que lhe habita.
Marcia Szajnbok
São Paulo, EBP