Sua mãe havia se separado de um homem que não valia grandes coisas e trabalhava muito para manter a filha. A menina podia passar os finais de semana com o pai. Nesses dias sua mãe trabalhava em outra cidade. Ela não sabe quantos anos tinha.
Aos seis anos, voltando da casa do pai, um acidente ocorre. Ela acorda e tenta falar com o pai. Ele está ensanguentado, não responde. Pessoas tiram-na das ferragens. Ela sabe o número do telefone da mãe. No dia seguinte separa brinquedos para levar para o pai no hospital. Viu as pessoas chorando, viu o pai morto, mas não sabia.
Seis anos depois surgem problemas com a matemática. Aulas particulares e medicamentos a ajudam a passar de ano, mas não aplacam sua angústia. Nem apagam o pensamento insistente de que não iria conseguir. Mesmo quando o ano escolar termina. Ela não sabe por quê.
Se ela pode contar com seu sintoma, o encontro com um analista lhe abre a chance de tratar de outra maneira esse encontro traumático com o real.
Cristina Drummond
EBP, Belo Horizonte, Minas Gerais